Diário da Poupança: a queda!

Noventa e sete dias se passaram desde o último diário, e nesse intervalo de tempo eu tropecei na pedra da inconstância e caí.




Ainda em 2017, quando a sementinha da mudança havia sido plantada, eu estava certa de que não queria mais gastar tanto dinheiro com alegrias efêmeras (brusinhas), que queria viver experiências maiores, melhores e mais duradouras que na grande maioria das vezes dependem de investimento financeiro. Em novembro, quando assisti The True Cost vi o impacto dos meus hábitos de consumo na vida de outras pessoas. A culpa puxou uma cadeira, sentou do meu lado e ali ficou até que eu de fato colocasse em prática os planos de mudança. A partir daí a postura foi alterada. Os diários começaram. Eu evoluí. E depois caí, justamente quando achei que estava em total equilíbrio.

Em maio aproveitei o feriado prolongado e fui até São José do Rio Preto. Precisava comprar umas coisinhas específicas pra algo que em breve vai acontecer (misteriosa/enigmática) e aproveitei pra dar uma volta no shopping, mas saí de Araçatuba focada. Queria apenas uma calça jeans (um modelo bem específico) e um casaco legal num valor que estivesse em acordo com as minhas condições. Não achei nenhum dos dois. Vi coisas muito legais, coisas que não chegam aqui em Araçatuba, mas saí de lá firme e forte, equilibrada e centrada. No dia seguinte, já aqui em Araçatuba, pensei em duas peças que vi e deixei passar, e me arrependi profundamente. Me arrependi porque estava tão focada em seguir à risca minha lista, que deixei de aproveitar boas oportunidades. O arrependimento amargou ainda mais porque eu não poderia voltar lá e buscar a peça. Fiquei chupando dedo, e pensando que na realidade, o equilíbrio que eu acreditava ter conquistado, que eu pensei ser sólido e intocável, era na verdade bem questionável.

Pra alguém como eu, que mantém um nível de cobrança altíssimo sobre seus próprios atos, perceber que não estava cem por cento certa sobre a facilidade de lidar com as mudanças que estavam acontecendo (facilidade que eu inclusive mencionei nos últimos diários) foi um baque. Fiquei chateada com o misto de sentimentos, com o ideal de mudança linear frustrado. Fiquei chateada por ver que eu me iludi achando que a mudança seria fácil porque de fato parecia fácil.



Assumi a minha postura habitual pós frustração: chorar ponderar os motivos que me fizeram buscar a mudança, ponderar os avanços e por fim os motivos atrelados à frustração, para, então, extrair algum aprendizado. Normalmente, pra ser  bem honesta quase sempre, a frustração vem das idealizações, das expectativas que estão em desacordo com a realidade possível. Eu acreditei que a mudança seria fácil. Parecia fácil. Porém, eu ignorei que o ser por trás da mudança é um ser humano complexo. Ignorei que acontecimentos externos podem influenciar as nossas atitudes e nossa postura no caminho.

Pontuei com a minha psicóloga todos os desdobramentos das mudanças que eu venho tentando implementar, e ela, sábia como de costume, me fez enxergar que mais uma vez, eu estava sendo rígida e dura demais comigo quando me cobrava constância. Quando me culpava, por exemplo, por ter "saído da linha", por ter me permitido comprar algumas coisas, já que isso aconteceu nas últimas semanas.

Hoje, sendo bem honesta, me encontro consumida por um ânimo gastador rsrs. Não sei se é a proximidade do meu aniversário, não sei se é a proximidade daquele algo que em breve vai acontecer ou o fato de amar as roupas e acessórios desta estação, só sei que agora,  depois de absorver o que a frustração quis me dizer, to tentando ser mais leve comigo. Não mereço o peso de um eu acusador. Aprendi que o tropeço e a queda abriram meus olhos para a realidade, despertaram minha mente para aquele ideal ilusório de mudança linear que eu estava absorvendo. Hoje acredito que a mudança é progressiva, porém não linear! Entender esses conceitos diminui a culpa, e minimiza a ocorrência daqueles julgamentos que a gente normalmente faz do tipo "você é fraca demais pra seguir à risca algum propósito". Não é verdade! Não acredite na parte de você que te diz isso. Acredite que você, eu, todos nós somos universos em constante construção e evolução.

Nessa altura pude ver mais uma vez, que idealizações e expectativas desalinhadas com a realidade são as maiores culpadas das nossas frustrações. Entendi que eu posso e mereço levar a vida de uma forma mais leve e continuar honrando meus compromissos. Continuo no propósito de consumir de forma mais consciente, de poupar nem que seja um pouco, de administrar meu salário de uma forma que me possibilite a vivência de experiências e alguma segurança, porém, sem o peso de ter que seguir sempre em linha reta, sem culpas por ter, em algum momento, me desviado do caminho. Percebi que os desvios também são escapes positivos e necessários (quando eventuais e quando não geram danos a nós mesmos e aos nossos semelhantes) e que eu posso desejar uma botinha animal print, um casaco alongado e uma calça pantalona sem que isso me desqualifique, sem que me torne  automaticamente alguém descompromissada e irresponsável. 


Noventa e sete dias depois eu posso dizer que: parecia fácil, mas na verdade não é não. Mudar os hábitos de consumo é um processo, como qualquer outro, que demanda paciência, empenho, e autocompaixão. Paciência pra entender que a estrada é longa, empenho pra buscar autoconhecimento a todo momento, para entender as razões atreladas aos atos e anseios, e autocompaixão, pra se abraçar e dizer pra si mesma quando você cair: "ei, tá tudo bem se frustrar, tá tudo bem cair. Você continua sendo uma mulher forte e maravilhosa mesmo no chão. Agora levante-se, limpe os joelhos e continue. Você ficará ainda mais forte, ainda mais sábia. Eu te amo!".