Eu, consultora de imagem: a crise existencial/profissional e a descoberta de um dom! (Parte I)

Quando grandes crises pessoais recaem sobre nós, é natural que a gente deseje/reze/ore/implore pelo fim delas, porque afinal, elas causam dor, muita dor! Eu desejei o fim da minha com muita força. Eu rezava chorando pra que ela fosse embora. Ela sugava minhas energias, minhas alegrias, ela me levava á exaustão mental, ela cutucou meu transtorno de ansiedade que por sua vez me casou dores físicas e provocou duas crises de pânico que me levaram ao hospital. Eu queria que ela partisse o mais rápido possível e que levasse consigo todo o sofrimento, os questionamentos infindáveis, o desânimo, o medo, o sentimento de fracasso, mas ela não foi embora no momento em que eu desejei que ela fosse. Ela só foi embora quando eu não precisava mais dela. 

Longe de mim endeusar o sofrimento, mas crises existenciais tem um quê positivo, e muitas vezes necessário. Elas trazem na bagagem uma implícita ânsia por autoconhecimento, elas te forçam a exercitar a paciência, elas propiciam o fortalecimento emocional, e tudo isso, é absolutamente indispensável á qualquer mudança.

Fonte: Google Imagens



Eu tinha uma vidinha toda programada. Estudei muito a vida toda. Na escola era da turma da frente, boas notas, dedicada, responsável. Se continuasse assim, sem dúvida alguma (na minha cabeça) construiria uma carreira impecável, brilharia no mercado de trabalho, atingiria estabilidade financeira rapidinho. E eu continuei assim. Era chegada a hora de prestar vestibular e, com isso, lidar com todas as dúvidas que surgem na hora de escolher uma carreira pra seguir. Tem gente que nasce com dons explícitos, nítidos, que cresce sabendo o que quer ser, ou que os reconhece precocemente. Eu não era essa gente. Entrei na faculdade de Direito por indicação uma vez que de fato, o curso propicia uma ampla área de atuação, a possibilidade de exercer diversos ofícios e, possivelmente, com algum deles eu me identificaria, não era possível que assim não fosse. Eu nunca sonhei com esse curso, mas tinha esperanças de que no meio do caminho eu me identificasse. Na faculdade de fato me identifiquei com algumas disciplinas, fiz tudo certinho como manda a cartilha imaginária de um futuro promissor. Consegui aprovação na OAB antes mesmo de terminar a faculdade e isso ratificou aquele ideal de vida programada e linear. Tudo estava bem encaminhado. Formatura. OAB na mão. Quero trabalhar, vou fazer currículos e distribuir escritório por escritório. Distribuí. Não recebi uma ligação, até o dia de hoje. Fiquei mal, mas peguei os limões da vida e fui fazer minha limonada. Aproveitei que nenhuma oportunidade de trabalho surgia e comecei a estudar pra concurso. Concursos públicos sempre estiveram em pauta lá em casa. Eu, estudiosa, conseguiria aprovação, bastava desejo e esforço, mas, mais uma vez, eu nunca quis isso. O período de estudo durou dois meses até que um amigo me disse que o escritório onde ele trabalhava estava contratando. Ele havia me indicado, fui fazer a entrevista e fui contratada. Estava amando a experiência, era tudo absolutamente novo pra mim afinal, venho de uma família com um pai que foi bancário por mais de 30 anos, uma mãe professora, uma avó auxiliar de serviços gerais e um avô motorista, ou seja, um mundo completamente alheio ao da Advocacia, mas eu estava caminhando bem. Um ano se passou, dois anos se passaram, me casei (olha a vida planejada e linear aí acontecendo), três anos se passaram e eu comecei a murchar... Fui perdendo ânimo, fui perdendo alegria, fui perdendo brilho, vontade de trabalhar, vontade de seguir aquele caminho. Percebi que, por ter negligenciado por tanto tempo as minhas peculiaridades, eu me encontrava completamente perdida, fazendo algo que não me representava, algo com o qual eu não me identificava, e aí a crise se instalou. A gente volta para o primeiro parágrafo e para a minha imensa vontade de que essa crise fosse embora.

Depois das crises de pânico soube que mudanças deveriam acontecer, e eu começaria pelo retorno à terapia. Nenhuma cabeça raciocina como deve quando existe um emaranhado de questões, e culpas e tristezas ali, então, fui cuidar delas. As crises de pânico cessaram mas as dúvidas, a insatisfação pessoal e profissional continuavam.

Fonte: Google Imagens




Nesse ponto eu já havia caído na real que não sonhava com um cargo público. Nunca foi um sonho meu, logo, abri mão da culpa por não estar estudando e me dedicando a um, pois até isso martelava a minha cabeça. Vejam bem: eu nunca sonhei com um cargo público mas por algum motivo eu me culpava por não estudar e ser aprovada em um. Nenhuma coerência...

Percebi que eu projetava os sonhos e metas das outras pessoas em mim, e isso me confundia, me trazia angústia.


Nesse meio tempo eu decidi aceitar a fase e, ao invés de brigar com ela, vivenciá-la com alguma leveza. Eu decidi que um hobby me ajudaria a canalizar tudo de mais negativo que vinha me acompanhando nos últimos tempos, mas qual? Eu sou uma negação pra esportes, não sou lá muito boa com trabalhos manuais, artesanatos... O meu hobby ideal deveria representar algo que comumente me fizesse esquecer todo o resto, bem como, algo que eu desenvolvesse com uma facilidade ímpar. Reparei que quando eu falava com as amigas sobre moda, tendências e afins eu esquecia do mundo, eu ficava feliz... Reparei que muitas delas me procuravam quando tinham dúvidas sobre qual roupa usar em determinada ocasião, ou sobre onde encontrar determinada coisa na cidade com preço legal já que eu já era ótima com os achadinhos, apenas não os compartilhava como faço hoje. Além do mais, eu amo escrever, então, o meu hobby poderia ser um blog. Poderia, mas o que eu faria com a timidez? E com as críticas que sempre me amedrontaram (as minhas e as dos outros)? E com essa falsa ideia de que blogs são vazios e cheios de futilidade? Criei dois blogs antes do SOS mas nunca consegui publicar uma vírgula neles. O medo me paralisava, a exposição me deixava aterrorizada. O problema é que na mesma proporção do medo, eu tinha muita vontade de tentar. Todos os dias pensava como seria ter um espaço só meu pra falar de tudo aquilo que me tirava daquele mar de questionamentos.

Sei que livros de autoajuda não são unanimidades, mas pessoalmente gosto bastante e, num dia qualquer, me deparei com um exemplar que falava de um tal "método Dom". Li a sinopse, fiquei curiosa e comprei. O nome não é do tipo chamativo, tá mais pra clichê na verdade: "O que falta para você ser feliz?". Comecei a ler sem grandes expectativas, mas o livro falou comigo, sabem como? Nas primeiras páginas, no relato pessoal da autora, eu me reconheci em cada palavra. E a coisa começou a ficar interessante quando ela começou a explanar sobre o tal método Dom, que até então, era um mistério pra mim. Pensei que se tratava de alguma sigla ou abreviação, mas não, a expressão se utilizava da palavra Dom na acepção mais pura: talento/habilidade/aptidão. Resumidamente, a autora explica que todo ser humano é dotado de alguma aptidão específica, e que, a partir do momento que a reconhece e que a explora, a vida, como um todo, passa a fazer sentido. O desânimo abre espaço para o prazer e para a satisfação pessoal, uma vez que, quando exploramos habilidades e aptidões, normalmente essas habilidades servem a outros seres, e esse ato de servir, de oferecer o dom que lhe é inerente em benefício de outrem, é recompensador. Quando ela disse que os dons não podem ser negligenciados ou minorados, eu me reconheci mais uma vez. Rotineiramente eu pensava que meu blog não ajudaria ninguém, afinal, todos estavam tão preocupados com suas próprias vidas, com seus problemas, com coisas mais "sérias", que meu blog seria algo absolutamente dispensável. Mas não. Se eu já ajudava amigas com as minhas habilidades naturais relativas a esse universo de moda, eu poderia ajudar muito mais pessoas com ele, e, num lapso de coragem, ele nasceu. 

Foi a melhor coisa que fiz em anos. Cuidar do blog acabou por sanar todos os sentimentos negativos que pairavam sobre mim. Eu voltei a sentir alegria, eu aprendi a não ter tanto medo da exposição, eu fiz amizades, criei laços, tive experiência incríveis, e algumas não tão boas mas extremamente enriquecedoras. Eu percebi que a moda era um dom que eu queria lapidar, pra, quem sabe um dia, poder me sustentar com ela. 

Mesmo antes do blog, eu sempre tive fascinação pelo universo da imagem pessoal, e depois de tudo o que me aconteceu, estava decidida a cursar Consultoria de Moda e Imagem. Esbarrei nas limitações geográficas uma vez que não havia nenhum curso presencial à disposição por aqui... Haviam algumas opções de curso via internet mas eu queria um curso presencial, com uma carga horária maior, mais conteúdo. O tempo foi passando, passando, passando, e eu pensei que não poderia mais esperar pelo ideal. Eu deveria agir com as ferramentas que eu tinha à disposição no momento, pois, pior que não curtir a experiência, é amargar a estagnação. 

Fiz algumas pesquisas na internet, e decidi pelo curso. Paguei, comecei imediatamente, finalizei e hoje, com isso me tornei oficialmente uma Consultora de Imagem. Sobre a consultoria em si, eu falo num próximo post já que esse extrapolou todos os limites em tamanho kkk. 

Redigi o post na tentativa de acalentar tantos leitores que passam pela mesma crise. Eu digo: ela vai passar, mas enquanto não passa, aproveitem pra extrair dela todos os ensinamentos necessários. Ela vai mexer com tudo o que existe dentro de você. Ela vai sacudir suas estruturas, algo pode ruir, mas a partir disso, você pode se reconstruir de um jeito novo.


Fonte: Google Imagens


Não é demérito não saber o que se quer. Não é errado desistir de um caminho que não lhe faz bem. É normal se sentir perdido, confuso mas saiba que nunca é tarde para se tentar algo novo. Reconecte-se consigo, entenda suas peculiaridades mesmo que pra isso você necessite de ajuda profissional (isso também está bem longe de ser demérito tá? Pelo contrario, é uma enorme prova de amor próprio, é vontade de ser plenamente feliz!) , tente descobrir suas habilidades e nunca, nunca pense que elas são insignificantes e desnecessárias. Sempre existirá alguém com dificuldade naquilo que você tem facilidade, e, pra mim, o sentido da vida tá bem aí. Nessa unidade que podemos propiciar, equilibrando nossas falências e nossas potencialidades, nossas dificuldades e nossas facilidades. Eu jamais seria médica então, graças a Deus que médicos existem. Eu jamais poderia ser confeiteira pois 90% dos bolos que já fiz apresentaram algum defeito. Em contrapartida, eu consigo conectar uma pessoa à sua personalidade por meio da moda, elevar com isso sua autoestima e devolver a segurança perdida com as minhas habilidades potencializadas com o curso de consultoria, e a magia é essa. Nesse final de semana vi uma reportagem linda sobre bebês prematuros que agora tem companhia na incubadora: um polvo de crochê que eles ganham de voluntárias. Os profissionais responsáveis pelos bebezinhos relataram uma melhora significativa no stress dos pequeninos depois que os polvos de crochê chegaram. Os bichinhos são feitos por pessoas que tecem com carinho aquela peça que acaba por ajudar um serzinho que tanto precisa de conforto e aconchego, então, ainda bem que existem mãos habilidosas por aí que se dedicam a fazer crochê, e consequentemente, a alegria de tantos. Hoje, muitos pais fragilizados se sentem mais calmos por saberem que os bebezinhos também estão mais calmos, com ajuda de outras pessoas.

Agora já pensou se esses voluntários pensassem que o dom de fazer um crochê é insignificante? Não haveriam bebês calmos naquele lugar, nem pais acalentados e gratos. Percebem?


Todo dom é uma dádiva que merece ser reconhecida e explorada!

(Continua...)


   

4 comentários

  1. Nossa Cami, como eu admiro esse seu dom de escrita, eu para escrever uma carta, sai um bilhete..kkkk. Mas você disse tudo! continue sempre essa pessoa linda, digo por dentro e por fora, e obrigada por compartilhar esse belo texto conosco.

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  2. Arrasou Camila. Perfeita a sua colocação em compartilhar sua experiência. Muito sucesso pra Você!!!

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  3. Sensacional Camila, consegui me enxergar nas suas palavras, infelizmente estou passando por essa fase. Um desencontro comigo mesma, não me vejo no que eu faço ( trabalho) é isso tem me consumido a cada dia... Estou em busca de me reencontrar e espero que seja em breve!

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